Através do discurso de Eliphas Levi em Dogma e Ritual da Alta Magia podemos ver que o homem que ganha poder sobre a matéria e se permite ser o recipiendário de todo o conhecimento está apenas no início da jornada para se tornar em algum momento o Eremita.
Ao ler os capítulos 1 e 9 paralelamente, temos a percepção de que tudo que Eliphas Levi diz sobre o Mago é na verdade um ensaio sobre a grande jornada que teria de empreender para dentro de si mesmo. Vemos isso pelo uso dos mesmos termos, exemplos e personagens, como se sem menosprezar a conquista do Mago ele dissesse entrelinhas que ainda falta muita coisa a caminhar pois ele galgou apenas o primeiro degrau dessa longa jornada.
O Mago que deseja chegar ao Santo Regnum (reino de deus) precisa de quatro características muito fortes e importantes: uma inteligência esclarecida para o estudo, uma audácia que nada faz parar, uma vontade que nada quebra e uma discrição que nada pode corromper. Ou seja; os verbos dele são: saber, ousar, querer e calar.
Porém o texto deixa discretamente subentendido que esse Mago já entendeu qual é o seu caminho e o que deve fazer para chegar ao Santo Regnum mas não necessariamente já dominou essa arte, digo isso tendo em vista o paralelo ao capítulo 9 em que é exposta, ao meu ver, o êxito desse homem que se aplica em sua arte até perceber que não precisa mais dela, pois ao longo da caminhada abre mão de seus artefatos mágicos um a um por experimentar na prática que a imaginação e a experiência são a verdadeira aplicabilidade do Verbo Divino.
Se ele começa sua empreitada com os quatro elementos mágicos: a taça, a espada, o pantáculo e o bastão que respectivamente representam os elementos naturais(agua, ar, fogo, terra) após sua vivência ele os substitui naturalmente por sua lâmpada, manto e bastão.
Seu manto traz o domínio sobre si próprio, o bastão se apoia em sua própria experiência e nos mistérios ocultos da natureza e a lâmpada representa o fogo que nunca se apaga, a luz do conhecimento, o fogo do espírito.
A título de interpretação pessoal vejo que os quatro elementos ainda permanecem em cena porém com outra roupagem, onde o centro da cena está na luz e no homem, no fogo espiritual e na água divina que carrega dentro de si como símbolo de sua própria vida.
A diferença entre o menino que descobre a magia e o senhor que já tem estrada de vida é que o Eremita não deseja mais, ele deixa que a vida seja por si só. O ímpeto não domina mais seu coração e ele se encontra cheio de conhecimento.
Se Um está em Um e tudo está em tudo ele pode agora viajar mais leve.